As cores atuais do passado colonial
Belo e resistente, o ladrilho hidráulico volta a ser moda na decoração (Suzete Aché)
Quando abriu seu negócio, há quatro anos, o engenheiro André Barcellos Marinho sabia que encontraria muitos desafios pela frente. Sua fábrica de ladrilhos hidráulicos, a Limestone, veio de certa forma recuperar o passado colonial brasileiro, mas veio também tentar concorrer com as modernas empresas de azulejos e pisos cerâmicos .
- Era um sonho antigo. Acho que o ladrilho hidráulico traz a magia do passado, possibilita infinitas combinações de cores e fica mais bonito ainda à medida que o tempo passa. É mais resistente que os pisos comuns e pode ser usado até em calçadas – afirma ele.
O que, constata-se, é a mais pura verdade. Muitos exemplares remanescentes das construções do século passado, trazido por engenheiros europeus contratados para erguer casas para a corte de dom João VI, resistem bravamente em oficinas mecânicas do Centro e em casarões de São Cristovão, a maioria transformada em estabelecimento comercial, suportando tráfego intenso. Também se contram pisos de ladrilho hidráulico na igreja de Santa Luzia, no Mosteiro de São Bento, na Igreja de Santo Antônio.
Chicô: releitura brasileira ao usar os ladrilhos
Na composição das peças, que são fabricadas individualmente por artesãos (como feitos no passado), entram grãos de areia selecionados, pó de mármore, pó de granito, pó de quartzo, cimento e corantes, dispostos em três camadas, mas espessas que a dos azulejos comuns. E, cada vez mais, os interessados em recuperar velhos pisos se valem dos serviços de André: recentemente, o Patrimônio Histórico resolveu restaurar o pavimento do casarão tombado onde funciona a Escola Mario da Veiga Cabral, cujo piso tem curiosa padronagem lembrando uma cruz suástica da qual não se tem notícia da origem. Ele reproduziu o desenho fielmente, quase não se nota a diferença entre o novo e o antigo.
Assim como o azulejo, o ladrilho hidráulico de ter entrado na Europa pela Península Ibérica, levado pelos árabes, mas sua origem ainda ;e nebulosa, apesar de registros sobre ele encontrado há mais de 500 anos. Hoje, no Rio, ele desponta como uma opção sofisticada para decoradores e arquitetos, especialmente em projetos de fazendas. O arquiteto Chicô Gouvea, um dos entusiastas, procura cores vibrantes nos ladrilhos que encomenda.
- Esse tipo de material chegou a cair em desuso no Brasil, mas ele ainda é muito usado no exterior, especialmente na Provença e no sul da Itália. Procuro fazer a releitura de uma época brasileira quando uso os ladrilhos em meus projetos. Adoro sua textura. Gosto da mistura do presente e do passado, alem de o ladrilho hidráulico ser tão bonito quanto resistente. Usei no andar de baixo do Garcia & Rodrigues e o resultado foi muito bom – diz Chicô. |
Feito como nos velhos tempos
Os ladrilhos que enfeitavam o chão dos antigos casarões continuam sendo fabricados um a um, com há séculos
Os pisos dos antigos sobrados coloniais portugueses continuam tão bonitos quanto sua época. Mais ainda: a passagem do tempo só fez aumentar sua beleza. Até hoje esses ladrilhos continuam sendo fabricados artesanalmente. Como no século XIX.
O nome ladrilho hidráulico vem do tipo de prensa em que os ladrilhos são compactados. O processo de fabricação não mudos praticamente nada com o tempo. Até os componentes continuam os mesmos: pó de mármore, quartzo e granito, óxido de ferro areias de diversas cores e cimento. O artesão preenche a forma com a mistura que depois vai para prensa. Em seguida o ladrilho seca durante 24 horas e finalmente recebe um banho de imersão por algumas horas. Do começo ao fim tudo é artesanal. Até as grades de cobre da fôrma são feitas pelos artesãos diz André Barcellos Marinho da empresa carioca Limestone.
As qualidades dos ladrilhos hidráulicos vão alam da estética, lembra André: são antiderrapantes, fáceis de assentar e suportam tráfego pesado. Tanto que em São Paulo são usados até em calçadas diz. |